ALTERAÇÕES NA DISPONIBILIDADE HÍDRICA: UMA ANÁLISE DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL DA POPULAÇÃO NA AMAZÔNIA OCIDENTAL
DOI:
https://doi.org/10.56238/revgeov16n5-110Palavras-chave:
Percepção Ambiental, Disponibilidade Hídrica, Mudanças Climáticas, Amazônia Ocidental, Políticas PúblicasResumo
Apesar de já haver literatura robusta sobre variações climáticas e hidrológicas na Amazônia, há lacuna quanto ao entendimento específico de como a população percebe as mudanças na disponibilidade hídrica, tanto nos rios que frequentavam em sua infância, quanto em relação ao volume de chuvas, em contextos locais menos pesquisados. Compreender essas percepções pode revelar discrepâncias ou convergências entre experiência vivida e dados técnicos, além de possibilitar que intervenções e políticas ambientais considerem não apenas métricas hidrológicas, mas também relato social e cultural. Diante desse contexto, o presente estudo teve como objetivo analisar a percepção ambiental da população da Amazônia Ocidental frente às alterações na disponibilidade hídrica, considerando tanto rios quanto precipitação pluviométrica. A pesquisa envolveu 100 participantes por meio de entrevistas semiestruturadas e questionário eletrônico, com foco em identificar se os indivíduos percebem mudanças na quantidade de água dos rios frequentados na infância e na intensidade das chuvas nos últimos anos. Os resultados indicam que 72% dos respondentes observaram diminuição no nível dos rios, enquanto 87% relataram redução no volume das chuvas, evidenciando que a população percebe de forma consistente os impactos das mudanças climáticas na região. A análise quantitativa, aliada à revisão de literatura, sugere que essas percepções estão fundamentadas em experiências concretas e na observação de alterações ambientais, sendo corroboradas por estudos hidrológicos e climáticos recentes. Além disso, a pesquisa destaca que a percepção da comunidade possui relevância não apenas ambiental, mas também socioeconômica e cultural, pois a redução hídrica afeta práticas tradicionais, agricultura familiar, pesca e abastecimento de água. A integração do conhecimento empírico local com dados científicos reforça a importância da gestão hídrica participativa e da formulação de políticas públicas que contemplem conservação florestal, educação ambiental e estratégias de adaptação às mudanças climáticas. Os resultados evidenciam que a percepção ambiental da população pode servir como instrumento de conscientização e monitoramento local, oferecendo informações complementares à ciência formal e contribuindo para decisões sustentáveis e inclusivas na Amazônia. Por fim, recomenda-se a ampliação de estudos futuros que explorem diferentes comunidades, indicadores hidrológicos e impactos sociais, a fim de fortalecer o embasamento para políticas públicas voltadas à sustentabilidade hídrica e à resiliência socioambiental na região.
Downloads
Referências
ACSELRAD, H.; MELLO, C. C. de A.; BEZERRA, G. N. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Garamond, 2009.
ADGER, W. N. Vulnerability. Global Environmental Change, v. 16, n. 3, p. 268 281, 2006. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2006.02.006. Acesso em: 13 ago. 2025.
AMORIM, T. X.; SENNA, M. C. A.; CATALDI, M. Impactos do desmatamento progressivo da Amazônia na precipitação do Brasil. Brazilian Journal of Climatology, v. XXIV, 2023. Disponível em: https://doi.org/10.5380/abclima.v24i0.58303. Acesso em: 11 ago. 2025.
ARAGÃO, L. E. O. C. et al. 21st Century drought-related fires counteract the decline of Amazon deforestation carbon emissions. Nature Communications, v. 9, n. 536, p. 1 12, 2018. Disponível em: https://www.nature.com/articles/s41467-017-02771-y?. Acesso em: 10 ago. 2025.
ARAÚJO, R. Da C. Efeitos do desmatamento sobre o ciclo hidrológico: uma comparação entre a Bacia do Rio Curua-Una e a Bacia do Rio Uraim. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Sustentável), Universidade Federal do Pará, 2010. Disponível em: https://repositorio.ufpa.br/server/api/core/bitstreams/9ab6cfa7-5431-49db-aaf0-0016457e633e/content. Acesso em 14 ago. 2025.
BECK, U. Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. São Paulo: Editora 34, 2011.
BECKER, B. K. Amazônia: geopolítica na virada do III milênio. 3. ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2015.
BENTES, A. C.; MENDES, A. F. Água e cultura na Amazônia: dimensões simbólicas do uso e da gestão dos recursos hídricos. Revista de Ciências Sociais, v. 50, n. 1, p. 233 256, 2019.
BEZERRA, R. N. de O. Percepções ambientais das pessoas frente às mudanças climáticas na cidade de Manaus-AM. Revista Geonorte, v. 14, n. 43, p. 63-77, 2023. Disponível em: https://www.periodicos.ufam.edu.br/index.php/revista-geonorte/article/view/10876/8475. Acesso em: 23 ago. 2025.
CARVALHO, A. Mudança climática, comunicação e política: desafios e perspectivas. Coimbra: Grácio Editor, 2011.
COHEN, J. C. P.; BELTRÃO, J. C.; GANDU, A. W. S.; SILVA, R. R. Influência do desmatamento sobre o ciclo hidrológico na Amazônia. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 59, p. 36-39, 2007. Disponível em: http://repositorio.ufc.br/handle/riufc/68841. Acesso em: 22 ago. 2025.
COSTANZA, R. et al. Changes in the global value of ecosystem services. Global Environmental Change, v. 26, p. 152 158, 2014.
ECOAMAZÔNIA. Mudanças climáticas já interferem em secas e cheias na Amazônia. 2024. Ecoamazônia.
GIFFORD, R. The dragons of inaction: psychological barriers that limit climate change mitigation and adaptation. American Psychologist, v. 66, n. 4, p. 290 302, 2011.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. 7. ed. São Paulo: Atlas, 2019.
HIGUCHI, N.; SANTOS, J. dos; LIMA, A. J. N.; HIGUCHI, F. G.; CHAMBERS, J. Q. A floresta amazônica e a água da chuva. Floresta, v. 41, n. 3, 2024. Disponível em: https://revistas.ufpr.br/floresta/article/view/24060/16090. Acesso em: 23 ago. 2025.
HULME, M. Why we disagree about climate change: understanding controversy, inaction and opportunity. Cambridge: Cambridge University Press, 2009. Disponível em: https://www.cambridge.org/9780521727327. Acesso em: 17 jul. 2025.
INPE. Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais. El Niño 23-24 é um dos cinco mais fortes já registrados, diz Organização Meteorológica Mundial. 2024. Disponível em: https://www.gov.br/mcti/pt-br/acompanhe-o-mcti/noticias/2024/03/el-nino-23-24-e-um-dos-cinco-mais-fortes-ja-registrados-diz-organizacao-meteorologica-mundial. Acesso em> 13 ago. 2025.
IPCC. Climate Change 2022: Impacts, Adaptation, and Vulnerability. Contribution of Working Group II to the Sixth Assessment Report of the Intergovernmental Panel on Climate Change. Cambridge: Cambridge University Press, 2022. Disponível em: https://www.ipcc.ch/report/ar6/wg2/. Acesso em: 14 ago. 2025.
JACOBI, P. R.; CIBIM, J.; SOUZA, L. Gestão participativa dos recursos hídricos no Brasil: avanços e desafios. Revista Ambiente & Sociedade, v. 18, n. 3, p. 45 64, 2015. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rk/a/MtRRgp96jPRZjxt9SfGm76j/?lang=pt. Acesso em 21 ago. 2025.
MARENGO, J. A. et al. The drought of 2010 in the context of historical droughts in the Amazon region. Geophysical Research Letters, v. 38, n. 12, p. 1-5, 2011. Disponível em: https://agupubs.onlinelibrary.wiley.com/doi/full/10.1029/2011GL047436. Acesso em 23 ago. 2025.
MORIN, E. Introdução ao pensamento complexo. 4. ed. Porto Alegre: Sulina, 2007.
NOBRE, C. A. et al. Land-use and climate change risks in the Amazon and the need of a novel sustainable development paradigm. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 113, n. 39, p. 10759 10768, 2016. Disponível em: https://www.pnas.org/doi/10.1073/pnas.1605516113. Acesso em: 05 set. 2025.
O ECO. Quase metade das águas da Amazônia já sofre impactos significativos da ação humana. 2022. São Paulo. Disponível em: https://oeco.org.br/noticias/quase-metade-das-aguas-da-amazonia-ja-sofre-impactos-significativos-da-acao-humana/. Acesso em: 25 ago. 2025.
PIVETTA, M. Desmatamento torna a Amazônia mais seca enquanto as mudanças climáticas globais a esquentam. 2015. Disponível em: https://revistapesquisa.fapesp.br/desmatamento-torna-a-amazonia-mais-seca-enquanto-as-mudancas-climaticas-globais-a-esquentam/. Acesso em 14 out. 2025.
PORTO, M. F. A.; PORTO, R. L. L. Gestão de bacias hidrográficas: experiências e lições. Estudos Avançados, v. 22, n. 63, p. 43 60, 2008. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0103-40142008000200004. Acesso em: 14 ago. 2025.
VASCONCELOS, M. A. A natureza mudou: alterações climáticas e transformações nos modos de vida da população no baixo rio Negro, Amazônia. Tese (Doutorado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia), Universidade Federal do Amazonas, 2020. Disponível em: https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/8177. Acesso em 14 ago. 2025.
WAGNER, F. H. et al. Amazon’s 2023 Drought: Sentinel 1 Reveals Extreme Rio Negro River Contraction. arXiv preprint, 2024. Disponível em: https://arxiv.org/abs/2401.16393. Acesso em 27 ago. 2025.
WWF BRASIL. Mudanças climáticas na Amazônia: ameaças e riscos. 2025 Disponível em: https://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/areas_prioritarias/amazonia1/ameacas_riscos_amazonia/mudancas_climaticas_na_amazonia/. Acesso em: 26 set. 2025.